A recente preferência da SEC pelo método Cash Creation para ETFs de Bitcoin ao contado trouxe à tona as diferenças entre as abordagens In-Kind ETFs e Cash ETFs. Mas qual delas reina suprema na corrida pela eficiência tributária?
Cash ETFs
Nesse modelo, os investidores institucionais autorizados (APs) entregam diretamente os ativos subjacentes do ETF ao gestor do fundo em troca de cotas. Dessa forma, não há necessidade de vender ativos para levantar dinheiro, o que poderia gerar ganhos de capital e, consequentemente, impostos.
Além disso, os APs podem devolver cotas do ETF ao gestor e receber em troca os ativos subjacentes do fundo na mesma proporção.
No caso do bitcoin, nesse modelo, poderia haver a venda de BTC para levantar o montante necessário, trazendo duas desvantagens:
Ineficiência tributária: Vender BTC gera ganhos ou perdas de capital para o ETF, repassados aos cotistas, que podem ter que pagar imposto mesmo sem vender suas cotas.
Erro de rastreamento de preço: A necessidade constante de vender bitcoin pode criar uma discrepância entre o desempenho do ETF e o do próprio BTC, especialmente em dias de mercados mais voláteis.
In-Kind ETFs
Aqui, os APs compram cotas do ETF diretamente do gestor do fundo pagando o equivalente em dinheiro. O gestor então utiliza o valor para adquirir os ativos subjacentes do ETF.
Depois, os APs devolvem cotas do ETF ao gestor e recebem o valor equivalente em dinheiro, proporcionalmente à sua participação no fundo.
Ou seja, no caso do bitcoin, haveria troca direta de cotas por BTC, sem vendas do ativo subjacente. Isso traz vantagens significativas:
Eficiência tributária: Sem a venda de bitcoin, os cotistas só pagam imposto ao vender suas cotas.
Rastreamento de preço preciso: 1 Bitcoin equivale a 1 cota In-Kind ETFs garantindo que o desempenho do produto reflita o do BTC com precisão.
Como o método Cash Creation pode gerar erro de rastreamento de preço
Conforme observado, um dos grandes problemas que pode ser gerado pelo Cash Creation é o de erro de rastreamento.
Quando um AP cria cotas de um ETF de Bitcoin ao contado usando esse método, o gestor do ETF precisa vender uma quantidade de bitcoin equivalente ao valor do dinheiro recebido. Essa venda pode ocorrer em um momento diferente do que o AP decidiu criar as cotas.
Por exemplo, se o preço do BTC variar entre o momento da venda e o da criação das cotas, isso pode gerar um erro de rastreamento de preço.
Imagine a capitalização da criptomoeda subindo 10% entre o momento da venda e o da criação das cotas, o ETF terá um desempenho inferior ao do próprio bitcoin.
No entanto, esse erro pode ser mitigado pelo gestor do ETF adotando estratégias como:
- Acompanhar o preço do bitcoin de perto e realizar vendas apenas quando necessário.
- Adquirir bitcoin fracionado, o que permitiria ao gestor vender apenas a quantidade necessária para levantar o montante desejado.
Mas a verdade é que essas estratégias não podem eliminar completamente o erro de rastreamento de preço. Sempre haverá um risco de que o BTC varie entre o momento da venda e o momento da criação das cotas.
Nesse sentido, por que esse modelo é o preferido da SEC?
Fizemos essa mesma pergunta ao Gabriel Broetto, gerente comercial da Brasil Bitcoin. Ele acredita que esse movimento da comissão está ligado a uma possível alta do mercado de criptomoedas e na arrecadação de impostos que ela pode proporcionar.
“Para mim, está claro que a SEC está forçando o ETF no modelo de criação de caixa, pois entende que o mercado de criptomoedas deve ter um aumento significativo na adoção nos próximos anos, e o ETF será amplamente utilizado por investidores institucionais. Nesse modelo, basicamente, o investidor fornecerá dinheiro, e o gestor irá comprar Bitcoin para ele. Isso gera um efeito tributário; assim, essa medida pode resultar em um aumento na arrecadação de impostos”.
Além disso, Broetto comentou sobre a importância do rastreamento de preços do bitcoin. Segundo ele, há dois motivos pelos quais essa métrica não deveria ser deixada de fora de um ETF.
“Os dois principais motivos pelos quais o rastreamento de preços do BTC para um ETF é tão importante são: primeiro, dependendo da escolha, o investidor perderá a eficiência tributária que o ETF pode proporcionar; segundo, neste caso específico, o Bitcoin, sendo um ativo volátil, pode levar o investidor a estar aplicando em Bitcoin a um preço muito diferente do valor real do ativo, caso o modelo escolhido seja o Cash Creation”.
Imagem destaque: CNBC