A tokenização é o processo de converter ativos do mundo real em representações digitais chamadas tokens. Para ilustrar, imagine que você possui uma obra de arte valiosa. Através da tokenização, essa obra pode ser transformada em unidades digitais menores, facilitando a negociação e o investimento por parte de mais pessoas.
O termo tokenização tem sido muito popular, pois ela ajuda a democratizar o acesso a investimentos, permite que tokens de ativos físicos sejam negociados com maior liquidez, utiliza a tecnologia blockchain para garantir a segurança das transações e elimina a necessidade de intermediários e processos manuais em negociações de ativos.
De acordo com grandes empresas, como Binance e JP Morgan, a tokenização deve atingir a marca de US$16 trilhões até o final de 2030.
Mas será que essa marca é realista?
Para responder a essas e outras perguntas sobre o universo da tokenização, o Bolha Crypto conversou com Daniela von Hertwig Meyer, que é especialista em blockchain e CEO da Anny, e com Flavia Jabur, jornalista e gerente de comunidade na Liqi.
O mercado trilionário da tokenização
Ao atingir a marca de US$16 trilhões até o final da década, o mercado de tokenização seria maior que a economia de quase todos os países, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Nesse sentido, acreditar em um número tão grande assim pode ser desafiador, mas não significa que seja algo inalcançável.
Conforme observado por Daniela, houve um aumento exponencial nos últimos meses de ativos tokenizados, seja ativos do mundo real, como ativos imobiliários, financeiros, imóveis e até títulos públicos e privados. Inclusive, a CEO da Anny usou como exemplo a tokenização de Emmo Fittipaldi, filho de Emerson Fittipaldi, corredor de Fórmula 1.
“Isso, para mim, é a tendência do futuro, não só a tokenização de RWAs, tokenização de fundos, tokenização de ações de empresas, a gente já tem até no Brasil também alguns exemplos disso, como a SMU, que faz a tokenização de startups, ou seja, uma participação societária da startup é tokenizada, e quem quiser investir nessa startup ou ser sócio pode se tornar a partir da compra desses tokens”.
Reforçando a visão de Daniela, Flavia Jabur acredita que o caminho para o sucesso da tokenização é inevitável:
“Com certeza. O mercado de tokenização de ativos do mundo real (RWA) já está demonstrando seu potencial e nos próximos anos vamos acompanhar nossa economia sendo tokenizada. Então, ver empresas falando do potencial crescimento desse setor, como Citibank, JP Morgan e até mesmo a Liqi, que foca em tokenização do mercado de capitais, só comprova que esse é um caminho inevitável”.
Jabur ressaltou que podemos tokenizar ativos do mundo real tanto tangíveis como intangíveis, sendo assim, eles passam a ser uma opção de investimento na infraestrutura blockchain, já que a tecnologia permite que, de forma descentralizada, empresas, instituições financeiras e pessoas consigam negociar ativos do mundo real com mais transparência, segurança e menos custos.
Brasil, DREX e Tokenização
O Brasil tem dado passos interessantes na direção da tokenização. Nesse sentido, Jabur chegou a relembrar que o próprio diretor do Banco Central, responsável pelo desenvolvimento do DREX, disse que o BC tem um “compromisso com a tokenização da economia”.
Podemos evidenciar ainda mais esse compromisso com o próprio DREX, que será a versão do real tokenizado, com algumas diferenças. Na visão de Daniela, assim como os investidores tradicionais do mercado de criptomoedas inicialmente desconfiaram do PIX, mas hoje em dia o utilizam, eles irão aceitar e até utilizar o DREX no dia a dia.
“E é muito legal porque a gente vê um movimento dos próprios governos, eu não gosto de bajular ninguém, mas a gente vê uma movimentação dos órgãos reguladores, digamos assim, de entender melhor o que é a blockchain e tirar benefícios disso”, declarou Daniela.
Apesar do avanço com o DREX, não podemos cruzar os braços, pois o Brasil ainda está engatinhando quando o assunto é tokenização.
“Eu acredito que nesses últimos dois anos a gente tem visto uma busca por entendimento do que está acontecendo, de como as coisas funcionam, mas quando a gente compara [o Brasil] com outros países como os Emirados Árabes, Suíça, e até mesmo Malta, El Salvador, então nem se fala, a gente está bem atrás ainda”, complementou a CEO da Anny.
Como exemplo, Daniela usou Dubai, onde existe uma lei de isenção de imposto de renda para empresas relacionadas à blockchain, Web3, criptoativos, o que, em sua visão, impulsiona o desenvolvimento de novas startups, de novos negócios de inovação, de novas tecnologias e de novos produtos.
“Então, eu acredito que a partir do entendimento dos nossos reguladores aqui, eu espero realmente que a gente possa ver também outros tipos de estímulos, sejam fiscais, seja de algum benefício para que a gente continue desenvolvendo novas tecnologias e novas funcionalidades e impactando realmente a vida de quem mora aqui”, acrescentou Daniela.
O papel das empresas na tokenização do Brasil
Ao falar de empresas desse setor, Daniela recordou a ABToken, a Associação Brasileira de Empresas de Tokenização, que foi fundada, criada e liderada por mulheres da área de criptomoedas no Brasil.
Também podemos citar a Liqi, empresa especializada em soluções de infraestrutura blockchain, que tem sido um nome muito presente no setor de tokenização do Brasil. Para exemplificar, a plataforma já tokenizou CCB, recebíveis e, em 2023, emitiu o primeiro TIDC do mercado junto com o Itaú.
“Na minha opinião, a maior prova do potencial da tokenização é que a Liqi tem como sócios a Galápagos, o Itaú e a Oliveira Trust, que são grandes players do mercado. Além disso, a empresa pretende tokenizar R$500 milhões em 2024. Como eu falei, a tokenização é um caminho sem volta e em breve a nossa economia será tokenizada, por isso quem olhar primeiro para isso vai sair na frente”, destacou Jabur.
Já a Anny, é uma plataforma de automação da tokenização de talentos, ideias e projetos, que nasceu no início de 2023.
Mas o que seria tokenizar talentos?
“É justamente o caso do Emmo Fittipaldi, em que a pessoa que tem um talento, uma habilidade, um projeto, uma ideia, possa criar seus próprios tokens e beneficiar os compradores desses tokens futuramente”, disse Daniela.
A especialista em blockchain apontou que a ideia da Anny é aproximar a tokenização do público geral que não tem conhecimento em mercado financeiro, em tecnologia, em Web2 e muito menos em Web3.
“Até como a Samanta (CMO da Anny) sempre coloca, um mecânico quer criar sua própria oficina e para isso ele precisa levantar capital. Ele vai conversar com os clientes dele, os clientes com quem ele conhece há bastante tempo, já tem um pouco mais de afinidade, enfim, vai falar, ‘estou criando o meu token para construir a minha oficina mecânica e quando a minha oficina estiver pronta com os recursos que eu vou captar com a venda do meu token, eu vou oferecer troca por serviços ou até mesmo por produtos que ficam dentro da oficina”.
Dessa forma, o mecânico consegue angariar fundos sem ter que se preocupar em fazer empréstimos no banco, em pagar juros e em ter o nome dele no SPC e/ou Serasa.
“E ele trabalha com o talento dele, com a ideia dele. E isso, para a gente, é muito importante porque ao mesmo tempo em que a gente impulsiona a adoção massiva da blockchain através de uma plataforma de automação da tokenização, a gente também impacta positivamente a vida de milhares de pessoas que vão poder trabalhar com suas habilidades, que vão trabalhar no que amam, que vão fazer com gosto, com prazer. E isso é muito legal”.
Conheça a Anny.
Conheça a Liqi.