Com a crescente desvalorização do dólar, um número cada vez maior de pessoas tem buscado alternativas para proteger suas economias, e o Bitcoin (BTC) surge como uma das opções mais mencionadas. A perda do poder de compra, impulsionada pela inflação, tem tornado difícil até mesmo arcar com necessidades básicas, levando muitos a enxergar na criptomoeda uma possível reserva de valor. Isso se deve, em grande parte, ao fato de o BTC ter uma oferta limitada — apenas 21 milhões de unidades — e ser independente de governos e bancos centrais.
Grandes nomes do setor financeiro, como o investidor Tim Draper, vêm defendendo o BTC como o futuro do dinheiro. Para eles, o colapso do dólar é apenas uma questão de tempo, resultado de políticas fiscais irresponsáveis e da impressão contínua de moeda. Eles acreditam que, diante da perda de confiança no sistema financeiro tradicional, as pessoas inevitavelmente migrarão para uma alternativa digital descentralizada.
Essa percepção tem impulsionado muitos a investir em Bitcoin como uma forma de proteger seu patrimônio. A lógica é simples: a criptomoeda não sofre com inflação como as moedas fiduciárias, suas transações são imutáveis e públicas via blockchain, e ela não pode ser controlada ou bloqueada por instituições financeiras. Soma-se a isso o desejo de escapar de um sistema que, em crises anteriores, socorreu grandes corporações enquanto cidadãos comuns perderam empregos, casas e economias.
Entretanto, a decisão de alocar recursos no Bitcoin, especialmente para quem possui poucas reservas financeiras, exige uma reflexão cuidadosa. A moeda digital apresenta riscos sérios, especialmente para pequenos investidores, que são os mais vulneráveis a perdas severas.
A volatilidade extrema do BTC é um dos principais pontos de alerta. Embora o público geralmente só tome conhecimento dos momentos em que a moeda atinge recordes de valorização, há períodos frequentes em que seu preço desaba até 80% em poucas semanas. Investidores de grande porte conseguem suportar essas flutuações, pois têm capital para manter suas posições por anos. Já os pequenos aplicadores, que dependem do dinheiro investido para despesas cotidianas ou emergências, não têm essa flexibilidade. Quando o valor despenca, muitos se veem obrigados a vender no prejuízo, comprometendo sua estabilidade financeira.
Além disso, o ambiente das criptomoedas não oferece as redes de proteção tradicionais. Casos de roubo por hackers, perdas por senhas esquecidas e falências de corretoras resultam, frequentemente, em perdas irreversíveis. A falta de conhecimento técnico agrava esse cenário: usuários inexperientes confiam seus ativos a plataformas de baixa confiabilidade ou não adotam práticas adequadas de segurança.
Em momentos de alta repentina no preço do BTC, o fenômeno psicológico do “FOMO” — medo de ficar de fora — leva pequenos investidores a comprarem no topo, impulsionados por histórias de enriquecimento rápido. Quando o preço inevitavelmente corrige, o pânico toma conta e muitos vendem com prejuízo para minimizar as perdas, criando um ciclo autodestrutivo.
A promessa de que o Bitcoin pode atingir valores como US$ 250 mil alimenta sonhos, mas ignora uma realidade crucial: a maioria das pessoas precisa de segurança financeira de curto prazo. Enquanto investidores profissionais podem esperar anos por uma valorização consistente, o cidadão comum necessita de liquidez. O histórico da criptomoeda mostra que os ciclos de valorização são seguidos por longos períodos de queda ou estagnação, o que pode obrigar muitos a vender em momentos desfavoráveis para custear suas necessidades básicas.
Por fim, as projeções otimistas sobre o futuro do BTC se apoiam em premissas incertas. O desempenho da moeda depende de fatores imprevisíveis, como mudanças regulatórias, avanços de concorrentes, falhas técnicas ou mudanças no comportamento dos investidores. Para quem tem pouco dinheiro, investir em Bitcoin pode ser mais uma aposta do que uma estratégia — e, em muitos casos, o preço do risco é alto demais.