Um caso de sequestro ocorrido em Londres ganhou notoriedade recentemente após julgamento no Tribunal da Coroa de Isleworth, no Reino Unido. O episódio, revelado pelo site The Times, envolveu um jovem belga de 21 anos, Quentin Cepeljac, que acabou sendo libertado por seus sequestradores ao descobrirem que ele não era o milionário das criptomoedas que aparentava ser nas redes sociais.
Conhecido por cortar o cabelo de estrelas do futebol na Bélgica, Quentin cultivava uma imagem luxuosa no Instagram e TikTok, onde afirmava ser um trader bem-sucedido no mercado de criptoativos. Foi nessa atmosfera digital que conheceu Davina Raaymakers, uma jovem de 20 anos que também ostentava um estilo de vida de alto padrão. Seduzido pela imagem dela, Quentin aceitou o convite para um fim de semana em Londres.
Ao desembarcar na capital britânica, em 5 de maio do ano passado, ele foi conduzido para um apartamento em Shepherd’s Bush. O imóvel foi apresentado como uma alternativa de última hora, já que a hospedagem originalmente combinada teria se tornado indisponível. Contudo, ao entrar no local, foi surpreendido por uma emboscada armada por uma quadrilha liderada por Adlan Haji — namorado de Raaymakers — com o auxílio de cúmplices.
Durante as nove horas em que permaneceu em cativeiro, Quentin foi espancado, ameaçado com facas e coagido a fazer transferências financeiras. Inicialmente, os criminosos exigiram 500 mil euros, mas ao perceberem que sua carteira de criptomoedas continha apenas 6,71 euros, reduziram a exigência para 50 mil. Acabaram aceitando os 2 mil euros disponíveis em sua conta bancária. Raaymakers deixou o local pouco depois do início das agressões.
O jovem sequestrado também foi obrigado a entrar em contato com um amigo na Bélgica e pedir ajuda financeira. O amigo, desconfiado, alertou as autoridades belgas, que acionaram a polícia do Reino Unido. Incapazes de obter mais recursos, os sequestradores devolveram a Quentin seu celular e passaporte e o abandonaram em uma estação de trem.
Após procurar a polícia, Quentin colaborou com os investigadores e retornou ao local do sequestro acompanhado pelas autoridades. Apesar de os criminosos terem tentado apagar vestígios com água sanitária, a polícia obteve provas por meio de registros do Airbnb, dados de celulares e câmeras de segurança, o que levou à identificação dos envolvidos.
Além de Haji e Raaymakers, participaram do crime Alexander Khalil, de 30 anos, e Omar Sharif, de 24. Este último teve que deixar o apartamento antes do fim da ação devido às limitações de sua tornozeleira eletrônica. Todos admitiram culpa pela tentativa de extorsão e aguardam a decisão judicial.
O detetive Jim Holland, do Esquadrão Voador, afirmou ao DailyMail que nunca havia visto algo parecido: “Uma pessoa estrangeira sequestrada no Reino Unido de forma tão inusitada.” Já a promotora Nicola Shannon afirmou que os envolvidos devem ser condenados a longas penas de prisão.
O caso se soma a uma série de sequestros e ataques ligados ao universo das criptomoedas, que têm causado apreensão no setor. Em janeiro, o cofundador da Ledger, David Balland, e sua esposa foram sequestrados e sofreram violência extrema — incluindo a amputação de um dedo, enviado como prova de vida junto a um pedido de resgate. Eles foram resgatados após 24 horas de cativeiro.
Na França, dezenas de suspeitos foram presos nos últimos meses por envolvimento em crimes semelhantes. Em Nova York, um homem foi vítima de sequestro por causa de seus Bitcoins. E na Estônia, o investidor cripto Tim Heath relatou à Justiça uma tentativa de sequestro em que ele mesmo reagiu e feriu um dos criminosos ao ser atacado por falsos pintores do lado de fora de seu apartamento.
Os incidentes revelam uma nova onda de criminalidade que explora a imagem de riqueza frequentemente associada ao mercado de ativos digitais.