A forte tensão geopolítica no Oriente Médio voltou a impactar diretamente os mercados financeiros e de criptoativos. O preço do Bitcoin sofreu uma queda expressiva, chegando a US$ 98 mil, após o parlamento iraniano aprovar uma proposta para bloquear o Estreito de Ormuz — uma das principais rotas de transporte de petróleo do mundo. A decisão ocorre em meio à escalada de conflitos, que se agravou após os Estados Unidos realizarem bombardeios contra instalações nucleares no Irã no dia anterior.
Ainda falta a aprovação final do Conselho Supremo de Segurança Nacional (SNSC) do Irã para que a medida entre em vigor. No entanto, os mercados globais já estão reagindo de forma intensa, antecipando o risco de um colapso no fornecimento de energia caso o estreito seja efetivamente fechado. Isso poderia desencadear um choque macroeconômico de grandes proporções, afetando não só commodities, mas também ativos de risco, como as criptomoedas.
O impacto não se restringe ao Bitcoin. O Ethereum recuou 3,5%, sendo negociado abaixo de US$ 2.200, enquanto o XRP desvalorizou para menos de US$ 2, um patamar que não era visto desde abril. No total, as liquidações no mercado cripto chegaram a US$ 876 milhões nas últimas 24 horas, refletindo a rápida migração dos investidores para ativos considerados mais seguros.
O motivo de tanta apreensão é claro: o Estreito de Ormuz é responsável por escoar cerca de 25% de todo o petróleo transportado globalmente. Um bloqueio nesse corredor estratégico impactaria de forma imediata o equilíbrio entre oferta e demanda energética no mundo.
O possível efeito cascata já preocupa os bancos centrais. Com a expectativa de disparada nos preços do petróleo, crescem os temores de uma nova onda inflacionária. Esse cenário pode obrigar autoridades monetárias, como o Federal Reserve, a adiar eventuais cortes nas taxas de juros, frustrando as expectativas dos mercados.
O aumento dos custos de energia teria efeitos generalizados na economia: consumidores enfrentariam maiores despesas com combustível, enquanto indústrias e empresas arcariam com elevação dos custos logísticos e produtivos.
Diante desse quadro, investidores tendem a buscar proteção em ativos tradicionais, como o dólar e os títulos do Tesouro americano. Esse movimento, por sua vez, provoca uma saída expressiva de recursos dos ativos de maior risco, incluindo o mercado de criptomoedas.
Se o choque energético realmente se consolidar, o Federal Reserve pode ser forçado a adotar uma política monetária ainda mais restritiva para tentar controlar a inflação, dificultando o alcance da meta de 2% ao ano. A sinalização de novos apertos poderia elevar os rendimentos reais, o que historicamente pressiona ativos como o Bitcoin, que não oferecem retorno recorrente.
O quadro atual também expõe a fragilidade estrutural do mercado cripto. A maior parte das liquidações recentes ocorreu em posições alavancadas, principalmente em Bitcoin e Ethereum. Com níveis elevados de alavancagem no setor, qualquer variação brusca nos preços tende a ser amplificada por chamadas de margem, intensificando os movimentos de queda.
Além disso, o fortalecimento do dólar americano, que geralmente ocorre em momentos de aversão ao risco global, agrava ainda mais a situação das criptomoedas. Caso o índice DXY (Dollar Index) continue subindo, existe a possibilidade de o Bitcoin aprofundar suas perdas, com cotações sustentadas abaixo da marca de US$ 100 mil.
Diante desse cenário de elevada incerteza, três elementos se tornam cruciais para orientar os investidores nos próximos dias:
- Votação no Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, que decidirá se o fechamento do Estreito de Ormuz será efetivamente implementado.
- Evolução dos preços do petróleo, especialmente se ultrapassarem a barreira dos US$ 100 por barril, o que pode intensificar a pressão inflacionária global.
- Posicionamento do Federal Reserve, que poderá rever sua estratégia de política monetária, dependendo da evolução dos choques de energia e seus impactos na inflação.
Caso o bloqueio de Ormuz se concretize, o mercado de criptoativos deverá enfrentar um ambiente prolongado de estresse, com pressão sobre o Bitcoin e os demais ativos digitais, até que haja uma resolução para as tensões geopolíticas e uma estabilização no fornecimento global de energia.