Na semana que começou com tensões geopolíticas no Oriente Médio, o mercado de Bitcoin mostrou sinais de fragilidade, mesmo diante de tendências macroeconômicas que, em teoria, deveriam favorecer os ativos de risco. Após ataques lançados pelo Irã contra bases militares dos Estados Unidos no Catar, o preço do BTC chegou a cair abaixo de US$ 100 mil na segunda-feira. Embora tenha recuperado parte do valor, alcançando US$ 108 mil na quarta-feira, os sinais vindos dos mercados de derivativos indicam uma crescente cautela entre os investidores.
Um exemplo claro dessa mudança de humor é a queda na taxa de financiamento anualizada dos contratos perpétuos de Bitcoin, que atingiu o nível mais baixo em sete semanas. Normalmente, posições compradas pagam uma taxa para manter a alavancagem, e taxas negativas são raras em mercados neutros. O fato de isso ocorrer durante uma alta recente de preço sugere que muitos operadores estão se reposicionando, temendo uma possível correção.
Além da oscilação nos derivativos, a instabilidade global reforça a insegurança. A guerra comercial, reacendida pelos Estados Unidos desde abril, tem alimentado esse clima de incerteza. Apesar de acordos temporários, como o firmado com a zona do euro, muitos estão prestes a expirar — o europeu, por exemplo, vence em 9 de julho. Com mais de 50 alterações nas políticas tarifárias desde que Donald Trump assumiu a presidência, analistas veem margem para um agravamento no conflito comercial.
Outro fator que contribui para o receio dos investidores é o desempenho decepcionante da economia americana. Segundo números oficiais divulgados na quinta-feira, o PIB dos EUA recuou 0,5% no primeiro trimestre em relação ao ano anterior. A contração foi atribuída, principalmente, ao déficit comercial elevado, impulsionado pelo aumento dos estoques das empresas em antecipação a novas tarifas.
Enquanto isso, ativos considerados de maior risco, como as ações de empresas menores listadas no índice Russell 2000, surpreenderam ao alcançar o maior patamar em quatro meses. Essa discrepância irrita parte dos traders de Bitcoin, que veem a criptomoeda estagnada abaixo de US$ 112 mil.
O entusiasmo desproporcional com a inteligência artificial também parece estar influenciando o comportamento do mercado. Analistas da Gartner alertam que a maioria dos projetos com IA ainda está em estágios preliminares e frequentemente são mal aplicados. Isso tem gerado receio de que o capital esteja sendo alocado em iniciativas supervalorizadas, o que acaba ofuscando o apelo do Bitcoin como ativo especulativo.
As movimentações de grandes empresas do setor cripto também estão alimentando os temores. A Bit Digital (BTBT), mineradora de Bitcoin com ações na Nasdaq, anunciou a venda de suas operações de mineração e reservas em BTC para investir em Ether. Até 31 de março, a empresa detinha 417,6 BTC e 24.434 ETH. Esse reposicionamento estratégico acendeu o alerta sobre uma possível onda de liquidação de BTC por outras mineradoras, ainda mais em um momento em que a lucratividade com a mineração está em queda — os rendimentos atingiram o menor nível em dois meses, conforme relatório da CryptoQuant.
Ainda que o cenário macroeconômico favoreça a valorização futura do Bitcoin — especialmente diante da crescente pressão sobre os bancos centrais para afrouxar suas políticas monetárias —, os riscos de uma correção temporária abaixo dos US$ 100 mil continuam presentes. O mercado se vê, portanto, em uma encruzilhada entre fundamentos que sustentam o otimismo e fatores de curto prazo que alimentam a cautela.