O recente salto no preço do Bitcoin para US$ 85.000 deixou muitos operadores intrigados, principalmente diante da queda de 5,7% registrada pelo índice S&P 500 somente no mês de abril. A valorização da criptomoeda, que se recuperou 14% após recuar para US$ 74.400 em meio a tensões comerciais, despertou otimismo cauteloso nos mercados. Ainda assim, diversos dados sugerem que a trajetória de alta pode continuar, com potenciais avanços rumo aos US$ 90.000.
Embora o comportamento do Bitcoin esteja se distanciando dos padrões do mercado financeiro tradicional — fenômeno conhecido como decoupling — há quem questione essa independência. Isso porque, apesar da valorização, a criptomoeda ainda não acompanhou o desempenho do ouro, que atingiu um pico histórico de US$ 3.358 em 16 de abril. A alta no metal precioso tem sido atribuída a possíveis aumentos nas reservas de ouro por parte de bancos centrais e governos.
O contexto macroeconômico global oferece pistas sobre o cenário que impulsiona esses movimentos. Enquanto os Estados Unidos mantêm uma postura conservadora diante da política monetária, com o Federal Reserve (Fed) resistindo a cortar juros ou expandir o balanço patrimonial, outras economias já adotaram medidas mais agressivas. A desaceleração da economia americana, somada ao fortalecimento de estímulos em outras regiões, intensifica a pressão sobre o Fed para que adote uma postura mais flexível.
Na China, por exemplo, os bancos concederam em março empréstimos que totalizaram US$ 500 bilhões — superando em mais de 20% as estimativas dos analistas e revertendo a retração observada no mês anterior. O Banco Popular da China se comprometeu a ampliar os estímulos econômicos para conter os impactos da guerra comercial com os EUA, segundo a Reuters.
Já na zona do euro, o Banco Central Europeu (BCE) optou por reduzir a taxa de juros pela sétima vez em um período de doze meses. A nova redução levou o custo do capital ao menor nível desde o fim de 2022. Economistas de grandes instituições financeiras ajustaram suas previsões de inflação para baixo, prevendo que o confronto tarifário possa resultar em uma perda de até 0,5% no Produto Interno Bruto da região, também conforme informações da Reuters.
A desvalorização do dólar frente a outras moedas globais acrescenta mais um fator à equação. O Índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana, atingiu o nível mais baixo dos últimos três anos. Embora um dólar enfraquecido possa, em tese, beneficiar as exportações e a balança comercial dos EUA, esse cenário favorável tende a ser efêmero em meio a conflitos comerciais.
Fatores políticos também interferem na confiança dos mercados. As duras críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à atuação do presidente do Fed, Jerome Powell, lançam incertezas sobre a condução da política monetária. Trump chegou a declarar que a saída de Powell “não pode acontecer rápido o suficiente”, defendendo ainda uma redução nas taxas de juros. Esse embate enfraquece a capacidade do Tesouro americano de emitir títulos como meio de financiamento, agravando ainda mais a situação do dólar.
Apesar dessas pressões, os dados econômicos recentes dos EUA não oferecem, por enquanto, justificativas sólidas para uma mudança de rumo por parte do Fed. O relatório mais recente sobre pedidos de auxílio-desemprego, divulgado em 17 de abril, mostrou uma queda de 9.000 solicitações na semana encerrada em 12 de abril, totalizando 215.000 pedidos, segundo o Departamento do Trabalho. No dia anterior, Jerome Powell reiterou que o mercado de trabalho permanece em “condição sólida”, conforme relatado pela Reuters.
Diante desse cenário complexo, o mercado segue tentando decifrar os próximos movimentos do Bitcoin, enquanto variáveis geopolíticas e econômicas continuam influenciando o equilíbrio entre risco, proteção e liquidez global.
