Após o congelamento de carteiras digitais associadas a entidades russas, a Rússia começou a considerar seriamente o desenvolvimento de suas próprias stablecoins. A medida surge como resposta direta à crescente pressão das sanções impostas pelo Ocidente e visa fortalecer a autonomia financeira do país diante de bloqueios internacionais.
Na última quarta-feira, Osman Kabaloev, vice-chefe do departamento de política financeira do Ministério das Finanças russo, comentou sobre o tema. Para ele, o bloqueio recente é um alerta claro de que o país precisa investir em alternativas internas semelhantes às stablecoins existentes no mercado, como a USDT. Kabaloev mencionou a possibilidade de essas novas moedas digitais nacionais serem atreladas a outras moedas estrangeiras, o que abriria caminhos para operações mais seguras em meio ao atual cenário geopolítico.
As stablecoins, especialmente as vinculadas ao dólar norte-americano como a USDT, desempenham um papel fundamental no ecossistema das criptomoedas. Elas funcionam como uma ponte entre moedas fiduciárias e ativos digitais, facilitando transações e transferências de valor com maior estabilidade. Na Rússia, além disso, essas moedas digitais vinham sendo utilizadas como alternativa para pagamentos internacionais, já que as sanções econômicas tornaram esses processos mais difíceis através dos meios tradicionais.
O episódio que desencadeou essa movimentação foi protagonizado pela Tether, empresa responsável pela emissão da USDT. Recentemente, a companhia bloqueou o acesso às carteiras digitais ligadas à Garantex, uma exchange de criptomoedas russa. O bloqueio afetou ativos no valor superior a 2,5 bilhões de rublos, o que equivale a cerca de 30 milhões de dólares. A ação foi tomada após a plataforma ter sido incluída na lista de sanções da União Europeia, no início de março, o que levou à suspensão das operações da Garantex.
Embora o Banco Central da Rússia mantenha uma postura crítica em relação ao uso interno de criptomoedas, ele tem autorizado testes limitados para transações internacionais baseadas em criptoativos. A governadora da instituição, Elvira Nabiullina, confirmou que algumas empresas russas estão participando de experimentos nesse campo, dentro de um projeto piloto mais amplo.
Diante desses acontecimentos, voltou ao centro das discussões no país o tema da infraestrutura financeira digital. A criação de uma stablecoin nacional surge como uma possível resposta para minimizar os impactos de ações externas sobre a economia russa. Essa nova ferramenta poderia não apenas substituir tokens emitidos por entidades ocidentais, mas também reforçar a soberania financeira da Rússia em tempos de crescentes restrições internacionais.
