Anatoly Yakovenko, cofundador da Solana, reacendeu uma antiga polêmica ao atacar publicamente o valor das meme coins, mesmo reconhecendo que elas são responsáveis por grande parte da movimentação e receita atual da rede. Para Yakovenko, esses tokens e também os NFTs seriam equivalentes a “lixo digital”, sem qualquer valor intrínseco – um posicionamento que, naturalmente, provocou reações negativas dentro e fora da comunidade cripto.
Em sua crítica publicada na rede X, o executivo comparou os ativos digitais a loot boxes (caixas de recompensa) de jogos mobile, sugerindo que seu valor só existe em função da especulação de mercado, e não de utilidade concreta. A fala foi feita em meio a um debate com Jesse Pollak, criador da rede Base, que defendeu que há sim valor intrínseco na própria natureza do conteúdo dos tokens.
Yakovenko manteve sua posição mesmo após reconhecer que a Solana não estaria onde está hoje sem a força das meme coins. Segundo ele, a situação seria parecida com a da Apple hipoteticamente dependendo financeiramente das loot boxes. A comparação, no entanto, foi duramente criticada, por equiparar dois modelos de negócio totalmente diferentes – loot boxes são sistemas de recompensa aleatória amplamente criticados por sua semelhança com práticas de jogos de azar, já banidas ou sob análise regulatória em países como Alemanha e Austrália.
Críticas ao discurso de Yakovenko também apontaram para a contradição entre o discurso ideológico e os números do próprio ecossistema Solana. Dados da Syndica mostram que, em junho de 2025, as meme coins responderam por 62% da receita gerada por DApps na rede – o maior percentual já registrado até hoje. O número subiu de forma progressiva desde março de 2024, quando era cerca de 20%, até alcançar esse novo recorde.
Esse domínio se evidencia em um gráfico de receitas por categoria: as meme coins aparecem em roxo como o segmento líder, enquanto DEXes são representadas em laranja. Outras categorias, como carteiras digitais, bots no Telegram, infraestrutura, jogos, NFTs e DePIN, ocupam fatias menores do bolo.
Além disso, o relatório mostra que a geração de tokens é a principal fonte de lucro dentro da rede Solana. Mais da metade dos novos tokens emitidos em 2025 são meme coins, repetindo uma tendência que vem desde o início do ano anterior. A facilidade de criar tokens com apenas um clique e o baixo custo das taxas na rede são fatores que contribuem para esse cenário, favorecendo a atividade especulativa e o volume constante de negociações.
Plataformas como a Metaplex, por exemplo, geraram sozinhas cerca de US$ 1,6 milhão em receita no mês, mantendo uma média mensal entre US$ 1,5 milhão e US$ 2 milhões, mesmo diante da forte concorrência entre projetos que buscam lançar sua própria moeda viral.
Entre os destaques do ecossistema estão ativos como BONK, PENGU (Pudgy Penguins), Official Trump Coin, Fartcoin, Dogwifhat e Useless Coin. BONK é negociado a US$ 0.00003454, com queda diária de 0,6%. Já PENGU subiu 16,5% na semana, sendo cotado a US$ 0.04233. A moeda de Trump apresentou ganhos diários de 2,2%, mas acumula perda semanal de 10,4%, valendo atualmente US$ 10,34. Fartcoin teve alta de 5,2% no dia, chegando a US$ 1,39, enquanto Dogwifhat subiu 6,1% e é negociado por US$ 1,14.
O melhor desempenho semanal foi da Useless Coin, com valorização de 42,8%, atingindo US$ 0,3919. Já a Popcat teve queda de 12,1% na semana, mesmo com um ganho de 2% no dia, cotada a US$ 0,3859.
Todo esse movimento também impacta o preço do próprio token SOL. Nas últimas quatro semanas, a criptomoeda valorizou quase 30%. Apesar de ter rompido brevemente os US$ 200, não conseguiu sustentar esse patamar e recuou para níveis anteriores.
Embora o discurso de Yakovenko insista em minimizar o papel das meme coins, os dados mostram que elas são o verdadeiro motor da rede no momento – tanto em volume quanto em geração de receita. A contradição entre o discurso e a realidade econômica segue alimentando o debate dentro da comunidade.
