O JPMorgan Chase está avaliando a possibilidade de conceder empréstimos com garantia em criptoativos, como Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH), detidos por seus próprios clientes — uma movimentação que sinaliza uma reviravolta notável na postura adotada pelo CEO Jamie Dimon no passado.
Segundo informações publicadas pelo Financial Times, essa iniciativa poderá ser lançada já no próximo ano, embora fontes próximas ao projeto alertem que o plano ainda está sujeito a alterações. A estratégia inicial envolve a concessão de crédito com base em participações em fundos de índice (ETFs) de criptoativos, com a perspectiva de, futuramente, aceitar diretamente ativos digitais como colateral.
A eventual entrada do JPMorgan nesse segmento contrasta com a postura crítica que Jamie Dimon sustentou durante anos. Em declarações anteriores, o executivo chegou a afirmar que o Bitcoin era uma fraude e que sua valorização não passava de uma bolha prestes a estourar. Dimon também declarou que demitiria qualquer trader da empresa que negociasse a criptomoeda e chegou a associar o uso desses ativos a atividades criminosas.
Apesar disso, mais recentemente, Dimon demonstrou uma postura mais permissiva, ainda que com reservas. Em maio, ao ser questionado sobre o tema, declarou: “Eu não acho que você deva fumar, mas defendo seu direito de fumar. Da mesma forma, defendo seu direito de comprar Bitcoin. Vá em frente.”
Essa possível guinada do JPMorgan ocorre num momento em que outras instituições financeiras também começam a explorar o setor de criptoativos. O Morgan Stanley, por exemplo, está considerando incluir negociação de moedas digitais por meio de sua plataforma E-Trade. Por outro lado, bancos como o Goldman Sachs ainda resistem a esse movimento, mantendo distância de produtos atrelados a ativos digitais.
Entre os obstáculos apontados por analistas, estão os riscos regulatórios e operacionais associados à concessão de crédito garantido por criptomoedas. Além das preocupações com lavagem de dinheiro e uso ilícito, há desafios técnicos relevantes: caso um cliente inadimplente tenha suas garantias liquidadas, o banco precisa estar apto a custodiar e gerenciar os criptoativos recuperados, o que envolve complexidades específicas.
No cenário mais amplo, as mudanças regulatórias nos Estados Unidos têm favorecido uma maior integração das criptomoedas ao sistema financeiro tradicional. Em abril, o Federal Reserve suspendeu a exigência de aprovação prévia para operações com ativos digitais por parte dos bancos. E, mais recentemente, a Câmara dos Representantes aprovou uma proposta para regulamentar as stablecoins — a primeira legislação desse tipo a avançar no Congresso.
Também em 2025, o CEO do Bank of America, Brian Moynihan, destacou que o setor financeiro está disposto a incorporar os criptoativos em suas transações, desde que o ambiente regulatório seja claro. Com os avanços legislativos e mudanças de posicionamento no setor, esse cenário parece cada vez mais próximo.
