Em um depoimento considerado crucial perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, deixou claro que a autoridade monetária não se opõe à participação de bancos norte-americanos em atividades envolvendo criptomoedas, desde que essas instituições sigam práticas adequadas de gestão de riscos e adotem mecanismos eficazes de proteção ao consumidor. A declaração representa uma mudança relevante na forma como o sistema financeiro tradicional se relaciona com o crescente setor de ativos digitais.
Essa posição surge em um contexto no qual reguladores federais vêm trabalhando para eliminar obstáculos que historicamente dificultavam a atuação dos bancos com criptoativos. Entre as recentes alterações, destaca-se a decisão do Federal Reserve de eliminar o conceito de “risco reputacional” do seu arcabouço de supervisão. Ao adotar essa medida, o Fed visa deixar de lado avaliações subjetivas e concentrar sua atenção em exposições financeiras concretas, abrindo caminho para uma atuação mais clara e objetiva por parte das instituições interessadas em operar com criptoativos.
O discurso de Powell também aponta para uma coordenação entre as principais entidades reguladoras dos EUA. Além do Federal Reserve, a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) e o Escritório do Controlador da Moeda (OCC) têm promovido atualizações em suas diretrizes com o objetivo de permitir que os bancos atuem de forma mais efetiva no mercado de criptomoedas. Esse esforço conjunto demonstra um avanço em direção a um entendimento comum de que o setor de ativos digitais exige um tratamento regulatório específico e estruturado, capaz de acompanhar sua rápida evolução.
As consequências dessas declarações são importantes tanto para o setor bancário quanto para empresas que atuam com criptoativos. Os bancos passam a ter maior liberdade para explorar serviços como custódia de ativos digitais, soluções de pagamento baseadas em blockchain e operações de negociação de criptomoedas. Ao mesmo tempo, empresas especializadas no setor cripto ganham novas possibilidades de integração com o sistema financeiro tradicional, o que pode impulsionar a criação de produtos e serviços inovadores.
A reação do mercado foi imediata. Após o pronunciamento de Powell, observou-se um aumento nas negociações de Bitcoin e outras criptomoedas, refletindo o otimismo dos investidores com a perspectiva de maior aceitação institucional. A expectativa é que a ampliação da atuação bancária nesse setor traga uma nova onda de adoção, agora impulsionada por instituições com grande credibilidade e alcance de mercado.
Durante sua fala, Powell também destacou que, embora o Federal Reserve tenha adotado uma postura conservadora após a instabilidade que abalou o mercado cripto em 2022, as condições atuais favorecem uma abordagem mais aberta e alinhada com a inovação responsável. Ele reiterou que qualquer expansão da atuação bancária em ativos digitais deve estar sustentada por estruturas sólidas de gerenciamento de riscos.
Outro ponto relevante de sua intervenção foi o apelo ao Congresso norte-americano. Powell defendeu a necessidade de que o Poder Legislativo estabeleça regras claras para stablecoins e outros ativos digitais. A definição de um marco legal contribuiria para complementar o trabalho das agências reguladoras, fornecendo um ambiente mais seguro e confiável para todos os participantes do ecossistema financeiro digital.
A reafirmação do Federal Reserve quanto à participação de bancos em atividades com criptomoedas sinaliza uma nova fase para a integração dos ativos digitais no sistema financeiro convencional. Com regras mais claras e respaldo institucional, os bancos estarão mais bem preparados para oferecer soluções baseadas em criptomoedas, ampliando sua legitimidade e acessibilidade no cotidiano dos consumidores. A expectativa é que, com o avanço dessas políticas e a consolidação de um ambiente regulatório mais transparente, o relacionamento entre bancos e ativos digitais evolua de forma consistente, moldando o futuro das finanças nos próximos anos.