Mesmo em meio à escalada do conflito entre Israel e Irã, que já chega ao seu sexto dia, o Bitcoin (BTC) mantém sua cotação acima dos US$ 100 mil. Ainda assim, o mercado segue sem uma direção clara, especialmente diante das ameaças dos Estados Unidos de se envolver diretamente na guerra.
Especialistas do mercado alertam que, se houver uma intensificação no cenário geopolítico, as consequências podem ser sentidas na inflação global e no apetite por ativos de risco nos próximos meses.
Criptomoeda no meio de uma tempestade: guerra e inflação
De acordo com um relatório publicado nesta quarta-feira pela QCP Capital, uma mesa de operações cripto sediada em Singapura, o Bitcoin está exposto a dois riscos consideráveis neste momento: o avanço do conflito no Oriente Médio e os reflexos inflacionários que podem surgir desse cenário.
O documento destaca que uma resolução rápida entre Israel e Irã parece improvável, o que mantém o BTC em constante tensão. A análise reforça ainda que qualquer movimentação que ameace o Estreito de Hormuz, uma das principais rotas de transporte de petróleo do mundo, pode gerar um aumento expressivo nos preços da commodity e, consequentemente, afetar negativamente os mercados de risco.
“A possibilidade de que o Irã, se sentir acuado, decida interromper ou até bloquear totalmente o Estreito de Hormuz representa um risco real. Caso isso ocorra, é quase certo que enfrentaremos um novo pico inflacionário justamente em um momento no qual o ambiente macroeconômico global já está fragilizado”, pontuou a QCP.
Crescem as chances de intervenção dos EUA
O temor de uma ampliação do conflito não é infundado. Segundo dados do Polymarket, uma plataforma de previsões, as chances de os Estados Unidos se juntarem oficialmente à guerra antes de julho superaram 60%. Esse percentual salta para 90% quando a projeção se estende até agosto, sinalizando que, para o mercado, a intervenção norte-americana é altamente provável.
Essa percepção ganhou força após declarações do ex-presidente Donald Trump, que adotou uma postura extremamente dura ao exigir uma “rendição incondicional” do Irã. Até o momento, esse tom mais agressivo não oferece qualquer sinal de que uma solução diplomática esteja próxima.
Adicionalmente, imagens e informações divulgadas recentemente mostram movimentações significativas de equipamentos militares norte-americanos sendo deslocados para regiões estratégicas do Oriente Médio, elevando o estado de alerta nas bases da região.
Impacto na política monetária e nos rumos do Bitcoin
Dentro desse cenário de tensão, surgem dúvidas sobre como o Bitcoin irá se comportar: atuará como um porto seguro, como historicamente se espera de ativos de proteção, ou seguirá o comportamento das bolsas e ativos de risco?
A QCP Capital acredita que o prolongamento do conflito poderá ter impactos diretos nas decisões do Federal Reserve (Fed). A expectativa da mesa de operações é que o banco central dos EUA mantenha os juros inalterados na reunião mais próxima, mas adote um tom mais cauteloso.
“Atualmente, o mercado precifica dois cortes na taxa de juros em 2025. No entanto, avaliamos que o Fed pode sinalizar apenas um corte, diante desse cenário mais pressionado”, alertam os analistas.
Esse possível ajuste nas projeções de política monetária, segundo eles, pode gerar pressão sobre o Bitcoin e outros ativos digitais.
Desempenho: BTC se comporta mais como ações do que como ouro
Apesar de muitos enxergarem o Bitcoin como uma proteção contra guerras e picos inflacionários, na prática ele tem se comportado mais como um ativo de risco do que como um hedge. Dados recentes mostram que a correlação do BTC com o índice Nasdaq Composite é de +0,61, enquanto sua correlação com o ouro é praticamente nula, em -0,07.
Na prática, isso significa que, ao invés de reagir como um ativo de proteção — típico de momentos de incerteza —, o BTC tem acompanhado mais de perto o comportamento das ações de tecnologia, funcionando como um ativo de alta volatilidade e sensível ao apetite por risco.
Expectativas dos investidores: cautela, mas com viés de recuperação
Apesar da queda recente que levou o BTC de US$ 108 mil para US$ 103 mil, os dados de mercado apontam que há uma predominância de apostas otimistas no curto prazo. Isso é refletido pelo aumento do prêmio em opções de compra (call), especialmente na métrica 25 Delta Skew, que subiu para 8% nos contratos de uma semana e 5% nos de um mês.
Em resumo, mesmo em meio ao ambiente carregado de incertezas — tanto pelo avanço da guerra quanto pelos riscos inflacionários —, parte dos traders mantém a expectativa de uma possível recuperação do Bitcoin no curto prazo.