Um esquema de fraude que lesou usuários da Coinbase em cerca de US$ 4 milhões veio à tona, revelando um roteiro de amadorismo, vício em apostas e ostentação nas redes sociais. O responsável pelo golpe é Christian Nieves, também conhecido no meio digital como “Daytwo”, que se passou por funcionário do suporte da exchange para enganar dezenas de vítimas.
O investigador de criptoativos ZachXBT, reconhecido na comunidade por desvendar esquemas fraudulentos, acompanha o caso há meses e não esconde seu espanto com o nível de descuido de Nieves. Segundo ele, o golpista acumulou uma quantidade impressionante de provas contra si mesmo — desde conversas até imagens da própria carteira de motorista.
Apesar de sua atuação desajeitada, Nieves obteve relativo sucesso na aplicação do golpe. Utilizando engenharia social, ele explorou dados vazados recentemente da Coinbase e convenceu pelo menos 30 clientes a transferirem seus ativos para carteiras controladas por ele.
O esquema operava a partir de uma falsa central de suporte. Nieves se passava por funcionário da Coinbase, entrando em contato com usuários e induzindo-os a fornecer informações sensíveis ou realizar transações fraudulentas. Esse tipo de golpe, conhecido como personificação de suporte, tem sido responsável por prejuízos crescentes no setor cripto.
De acordo com ZachXBT, essa modalidade de crime já causou perdas superiores a US$ 150 milhões até fevereiro deste ano, considerando diferentes casos de golpes semelhantes envolvendo a marca Coinbase. Só em novembro do ano passado, foram contabilizados US$ 6,5 milhões desviados em fraudes idênticas.
Em 2024, uma das vítimas de Nieves teve US$ 240 mil roubados, o que permitiu ao investigador mapear todo o caminho do dinheiro e compreender a dinâmica do golpe. A partir dessa trilha, foi possível associar diversos outros casos à mesma operação criminosa.
Um detalhe curioso é que, mesmo após arrecadar milhões, Nieves perdeu quase todo o dinheiro de forma rápida e irresponsável. Viciado em jogos de azar, ele gastou os valores em cassinos, apostas, compra de relógios de luxo e despesas com festas e serviços de garrafa. O vício era tão severo que o golpista chegou a não repassar a parte combinada a seus próprios cúmplices, pois simplesmente perdeu os valores no jogo antes disso.
Além do prejuízo financeiro, o comportamento do golpista durante a investigação agravou ainda mais sua situação. Nieves provocou ZachXBT publicamente em várias ocasiões, o que só aumentou o empenho do investigador em desmascará-lo. O desprezo demonstrado por ZachXBT em relação a Daytwo é notável, sendo considerado incomum até mesmo entre os inúmeros criminosos digitais que ele já expôs.
O tom de surpresa da comunidade não se limita à magnitude do golpe, mas principalmente ao fato de que Nieves pouco se esforçou para ocultar sua identidade. Segundo ZachXBT, é raro encontrar um criminoso de engenharia social que exiba abertamente os frutos de suas fraudes nas redes, enquanto deixa rastros evidentes que facilitam qualquer apuração por parte das autoridades.
Em publicações recentes, ZachXBT destacou até mesmo vídeos nos quais Nieves aparece comentando abertamente sobre suas operações de lavagem de dinheiro. O conjunto de evidências reunido torna esse caso um dos mais fáceis de serem conduzidos pelas autoridades, embora as chances de que as vítimas recuperem seus fundos sejam pequenas, justamente porque os valores foram rapidamente perdidos em apostas após os crimes.
O cenário atual levanta um alerta preocupante. A indústria cripto vive, segundo ZachXBT, um verdadeiro “superciclo de crimes”, onde tanto ataques sofisticados quanto fraudes simples, baseadas em manipulação psicológica, continuam provocando prejuízos milionários. E enquanto golpes como o de Nieves seguem ativos, usuários da Coinbase e de outras plataformas precisam redobrar sua vigilância, pois qualquer descuido pode resultar no esvaziamento completo de suas carteiras.