O Itaú está se preparando para intensificar sua participação no setor de criptomoedas e ativos digitais, alinhando-se à crescente onda de adoção global dessas tecnologias. Guto Antunes, responsável pelos ativos digitais no banco, compartilhou essa visão durante um evento realizado em São Paulo no dia 1º de abril de 2025. Ele destacou que a tendência é que cada vez mais as criptomoedas, em especial o Bitcoin, sejam incorporadas ao sistema financeiro tradicional, formando um ecossistema híbrido que combina o melhor das finanças convencionais e dos ativos digitais.
Antunes observou que a postura favorável ao Bitcoin adotada por Donald Trump nos Estados Unidos e o aumento da aceitação institucional das criptomoedas, com empresas e até nações considerando o uso dessas moedas digitais, representam um marco importante para o setor. De acordo com ele, a discussão atual já não é mais sobre se o Bitcoin é bom ou ruim, mas sobre como os governos estão começando a ver essas tecnologias como instrumentos possíveis de controle da política monetária.
O banco, conforme explicou Antunes, está avaliando diversas alternativas de produtos e serviços para seus clientes, incluindo a criação de stablecoins próprias. O executivo mencionou que a possibilidade de emitir stablecoins sempre esteve em pauta no Itaú, reconhecendo o potencial da blockchain para viabilizar transações de maneira mais eficiente. “Não podemos ignorar a força que a blockchain tem para liquidar transações de forma atômica”, disse ele, destacando o papel fundamental das stablecoins nesse processo.
Uma das alternativas que o banco estuda é o lançamento de stablecoins vinculadas ao dólar e ao real, com Antunes afirmando que a instituição está disposta a avaliar se faz sentido para seus clientes ter acesso a uma stablecoin, até mesmo em reais. O conceito de stablecoins tem ganhado força, e, segundo Antunes, esse tipo de ativo digital pode ser uma das principais forças no mercado de criptomoedas no momento, especialmente em um cenário em que a soberania do dólar é um tema em debate, impulsionado pela postura de Trump em relação às moedas digitais de banco central.
O executivo também comentou sobre o andamento de discussões legislativas nos Estados Unidos, onde um projeto de lei em tramitação no Congresso visa autorizar bancos a emitir suas próprias stablecoins, o que poderia estabelecer um precedente global. No Brasil, o projeto Drex, que envolve a criação de uma moeda digital atrelada ao real, prevê que os bancos emitam stablecoins voltadas para o público final, diferentemente do “real digital”, que seria uma moeda digital voltada ao setor financeiro.
Em relação à regulação, Antunes mencionou que o Itaú está aguardando a definição das normas do Banco Central para o mercado de stablecoins, atualmente em consulta pública. A Consulta Pública 111/2024 é crucial para que o banco possa dar continuidade ao desenvolvimento de seus produtos nesse segmento. “Estamos dependendo dessa consulta para entender como podemos avançar”, disse Antunes, ressaltando que as stablecoins têm grande potencial para beneficiar os clientes, mas que é necessário compreender os limites e as oportunidades regulamentares.
Por fim, Antunes se posicionou sobre a questão da autocustódia de stablecoins, um ponto controverso no debate atual, especialmente após a proposta do Banco Central que proíbe a transferência de ativos virtuais para carteiras autocustodiadas. Antunes sugeriu que o BC poderia criar uma lista de aprovação para regular o uso dessas moedas digitais, com o objetivo de evitar problemas como evasão fiscal, lavagem de dinheiro e financiamento de atividades ilícitas.