Em uma iniciativa que sinaliza um aprofundamento nas relações internacionais por meio das criptomoedas, o representante do setor cripto do Paquistão, Bilal Bin Saqib, se encontrou com o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, em San Salvador. O encontro teve como objetivo discutir formas de estreitar a cooperação entre os dois países no setor de ativos digitais.
A visita acontece em meio ao avanço do Paquistão em políticas voltadas ao setor cripto, apesar do país estar operando sob um programa de US$ 7 bilhões acordado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2024, válido até 2027. Embora o governo paquistanês tenha declarado interesse em alocar 2.000 megawatts de energia elétrica para mineração de Bitcoin e criar uma reserva nacional da criptomoeda, essas medidas precisam ser aprovadas previamente pelo FMI, conforme estipulado nas condições do programa.
A postura do Paquistão contrasta com os desafios enfrentados por El Salvador, que também está sob supervisão do FMI. Mesmo pressionado a interromper novas compras de Bitcoin, o país declarou, em abril, possuir 6.238 BTC, avaliados em aproximadamente US$ 745 milhões. O histórico salvadorenho, com decisões ousadas em relação ao Bitcoin, torna o país um polo atrativo para nações que buscam seguir caminhos semelhantes.
A crescente adoção de ativos digitais pela população paquistanesa — entre 15 a 20 milhões de cidadãos já investem em criptomoedas, segundo Bilal Bin Saqib — tem incentivado o governo a formalizar a estrutura regulatória do setor. Em julho de 2025, o país lançou oficialmente a Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais do Paquistão (PVARA), responsável por supervisionar bolsas de criptoativos, carteiras digitais, stablecoins e serviços relacionados.
Esse esforço de regulação ganhou força após um acordo firmado em abril de 2025 entre o Conselho Cripto do Paquistão e a empresa World Liberty Financial — esta última apoiada por Donald Trump — com o objetivo de acelerar o uso de blockchain por meio de ambientes regulatórios experimentais e iniciativas com stablecoins.
Apesar de o país contar com excedente de energia elétrica em determinadas épocas do ano, especialmente no inverno, o secretário de Energia do Paquistão, Fakhre Alam Irfan, afirmou ao Comitê de Energia do Senado que o FMI demonstrou preocupação com a proposta de oferecer tarifas diferenciadas para mineradores de criptomoedas. Segundo o Fundo, tais incentivos poderiam comprometer o já frágil equilíbrio do mercado energético nacional.
Mesmo após evitar um calote soberano em 2023, o Paquistão continua enfrentando sérios desafios fiscais. As projeções do FMI indicam que o país precisará captar mais de US$ 100 bilhões até 2029 para cobrir déficits orçamentários e lacunas no balanço de pagamentos. A expansão no setor cripto, portanto, surge como uma possível rota de alívio econômico, embora envolva riscos significativos e demande validação de seus credores multilaterais.