A transformação digital nas grandes corporações ganhou novo impulso com a adoção crescente da tecnologia blockchain. Um estudo recente da Coinbase, divulgado em seu relatório “State of Crypto” do segundo trimestre, revela que seis em cada dez empresas que integram a lista Fortune 500 estão atualmente desenvolvendo ou participando de projetos ligados à blockchain. A análise foi feita com base em entrevistas com executivos dessas organizações, evidenciando uma virada significativa na percepção e no uso da tecnologia.
Dentre as empresas pesquisadas, cerca de metade relatou um aumento nos investimentos voltados para blockchain. Além disso, aproximadamente 20% dos entrevistados afirmaram que essa tecnologia já faz parte essencial das estratégias corporativas em andamento. Apesar do entusiasmo, o relatório destaca que a ausência de regulamentação clara ainda é um obstáculo relevante. A incerteza jurídica permanece como uma barreira para o avanço completo das criptomoedas e das aplicações onchain no cenário empresarial.
O documento enfatiza que o cenário financeiro está passando por mudanças profundas. “O futuro do dinheiro já começou”, destaca o relatório. “Mas para que seu potencial se realize por completo, é crucial que o ambiente regulatório evolua, oferecendo segurança e estabilidade.” A percepção sobre ativos digitais também está mudando: empresas que anteriormente demonstravam resistência às criptomoedas agora estão entre as que mais se movimentam nesse mercado.
Exemplos notórios incluem gigantes do setor financeiro como Goldman Sachs e BlackRock, que lideram iniciativas de blockchain. No entanto, o fenômeno não está restrito às grandes instituições. Diversos segmentos e tamanhos de empresas têm adotado soluções baseadas em blockchain, ampliando o leque de aplicação dessa tecnologia.
Entre as pequenas e médias empresas, o cenário é igualmente expressivo. Nos últimos 12 meses, o número de PMEs utilizando blockchain duplicou, conforme revelou a Coinbase. Mais de 80% dessas organizações apontaram que a adoção de criptomoedas poderia ajudá-las a enfrentar ao menos um desafio financeiro importante. O relatório observa que, nesse segmento, a aceitação da tecnologia onchain, especialmente no campo dos pagamentos, está crescendo rapidamente devido à promessa de reduzir custos com taxas e agilizar transações — aspectos frequentemente citados como gargalos operacionais.
Segundo o relatório, “o futuro do dinheiro é mais evidente entre as PMEs, a espinha dorsal da economia americana”. A pesquisa também identificou que 18% dessas empresas já fazem uso de stablecoins — criptomoedas cujo valor é atrelado a ativos estáveis, como o dólar — como forma de facilitar suas operações financeiras.
O uso de blockchain vem ultrapassando o universo das transações financeiras. A tecnologia, que é a base do funcionamento do Bitcoin e de outras criptomoedas, se estabeleceu como um sistema de registro online descentralizado e criptografado, praticamente imune a adulterações. Hoje, seu uso se expandiu para aplicações como o rastreamento logístico de alimentos, adotado por empresas como o Walmart, além de ser implementado por grandes bancos em novos produtos financeiros.
Um movimento interessante observado é o de empresas listadas na Nasdaq que estão investindo diretamente em Bitcoin. A Strategy, anteriormente conhecida como MicroStrategy, exemplifica essa tendência: abandonou sua atividade original como desenvolvedora de software para se transformar em um dos maiores detentores institucionais de Bitcoin. Atualmente, a empresa administra mais de 582.000 BTC, avaliados em mais de US$ 62 bilhões, buscando garantir melhores retornos aos seus acionistas.
Com a popularização de stablecoins e a incorporação da tecnologia blockchain por companhias de diversos portes e setores, o relatório da Coinbase indica que o setor corporativo está não apenas se adaptando às mudanças tecnológicas, mas liderando um novo capítulo da economia digital.