A criptomoeda Dogecoin enfrentou um tombo de 10% nesta quinta-feira, ampliando sua desvalorização semanal para 22%. O colapso está diretamente ligado a uma escalada de tensões políticas entre Elon Musk e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — um conflito que culminou no desligamento oficial de Musk de qualquer vínculo com a administração federal e, mais simbolicamente, do Departamento de Eficiência Governamental, apelidado de forma irônica como DOGE.
A relação entre Musk e Trump começou a se desgastar no início da semana, quando Elon criticou publicamente o novo pacote de gastos proposto pela Casa Branca. A resposta de Trump veio rapidamente: ele cancelou a indicação de Jared Isaacman, parceiro de longa data de Elon e seu preferido para liderar o futuro da exploração espacial americana por meio da NASA. O gesto foi entendido como um rompimento definitivo entre os dois.
A crise política atingiu seu ápice na quinta-feira. Trump, em entrevista à imprensa, declarou estar “muito decepcionado” com Elon. A reação foi imediata: Musk recorreu à plataforma X (antigo Twitter) para afirmar que “Trump teria perdido a eleição sem mim”. A resposta do presidente veio com um seco “CRAZY”. Pouco depois, Trump ameaçou cancelar todos os contratos federais com empresas ligadas a Musk.
O impacto no mercado foi severo. As ações da Tesla registraram uma queda de 14% antes do fechamento do pregão. Elon não recuou. Ainda na mesma plataforma, desafiou o governo com a frase: “Vai em frente, me faça feliz”, seguida do anúncio de que a SpaceX iniciaria o processo de desligamento do programa Dragon — o único veículo espacial dos EUA atualmente responsável pelo transporte de astronautas até a Estação Espacial Internacional.
Embora Dogecoin não tenha sido citado diretamente em nenhum momento, os reflexos no seu valor foram imediatos. A moeda, que nunca teve lastro em ativos reais e se mantém por meio de memes, entusiasmo e, acima de tudo, o apoio de Elon Musk, sofreu com a perda de influência do bilionário nos bastidores de Washington.
A ligação entre Musk e Dogecoin sempre foi simbólica, mas potente. Em 2022, o simples anúncio de que a Tesla aceitaria a criptomoeda para compras de produtos fez seu preço disparar 15% em apenas um dia. No ano seguinte, o preço da moeda subiu mais de 30% quando Elon trocou o logo do Twitter por um shiba inu — o mascote da Dogecoin.
Esse mesmo tipo de impulso agora trabalha na direção oposta. A saída de Musk da órbita de Trump e o risco real de cortes nos contratos governamentais estão revertendo a narrativa que sustentava a valorização do ativo.
No final de 2024, após a vitória eleitoral de Trump, Dogecoin chegou a subir junto com o Bitcoin, embalado pela expectativa de um ambiente mais liberal e menos regulado para o setor cripto. Mas esse entusiasmo se dissipou rapidamente. Com o afastamento de Elon e o aumento das tensões com o governo, os investidores estão enfrentando as consequências de terem apostado em uma aliança política que já não existe mais.