Sem dúvidas, desde o último domingo (8), o mercado de criptomoedas passou por momentos verdadeiramente nebulosos. Um grande drama se acendeu entre o bitcoin (BTC) e as altcoins logo após o CEO da Binance informar que a exchange iria se desfazer do token da FTX.
Mas o grande problema dessa história mesmo é a Alameda Research, empresa de trading de Sam Bankman-Fried (SBF). Isso porque, no início de novembro, houve a denúncia de que a Alameda estaria passando por problemas de insolvência.
O Coindesk divulgou um relatório, compartilhado pela Binance, que informou que a Alameda poderia não ter fundos suficientes para cobrir suas dívidas pendentes.
A empresa de trading de SBF teria uma parte considerável de seus fundos em tokens sem liquidez baseados no blockchain Solana e a maior proporção dos ativos estaria concentrada no FTT.
Nesse cenário, a empresa entraria na lista de falência ao lado da Terraform Labs, Celsius Network e Three Arrows Capital (3AC).
Essa problemática teria atingido a FTX e feito com que a mesma fosse pedir socorro para a principal exchange do mercado cripto e Changpeng Zhao (CZ) disse que entraria com ajuda e que iria adquirir a exchange mais nova.
Contudo, esse não é o único escândalo em que a FTX se envolveu. Apesar de SBF querer passar segurança e informar que tudo está certo, ele precisou pegar US$1 bilhão em capital novo de Wall Street e de bilionários do Vale do Silício.
Detalhe, esse movimento ocorreu apenas algumas horas antes de a FTX entrar com o pedido de socorro com a Binance.
Além disso, parece que o problema da exchange não se resolveria com apenas US$1 bilhão. Afinal, a especulação é que ela tem uma necessidade de US$5 bilhões a US$6 bilhões para tapar seu buraco.
Sendo assim, a crença de que a FTX não estava com problema de liquidez é falsa. Para mais, a Alameda Research não é nenhuma flor pura. Ela teria entrado em falência bem antes de tudo estourar.
A derrocada do ecossistema SBF
Idolatrado no mercado de criptomoedas, SBF conseguiu chamar a atenção por acumular um patrimônio líquido que chegava a ultrapassar a marca dos 16 bilhões. E não é para menos.
A FTX, sua principal empresa até então, estava liderando o setor cripto há algum tempo. SBF até se orgulhava em dizer que conseguia ultrapassar o volume de negócios da Coinbase, mesmo com menos clientes e sendo mais novo na indústria.
“Temos números excelentes. Fazemos 6 vezes mais volume do que a Coinbase enquanto temos 20 vezes menos usuários. Quando você olha para esses números, você pode ver que há muito potencial”.
Apesar de estar envolvido em polêmicas relacionadas a lançamentos de projetos, SBF conseguiu evidência em muitos e o mais recente foi o do token APT.
Claro que não podemos deixar de mencionar que a FTX fez um resgate milionário da BlockFi e SBF realizou uma grande oferta pelos ativos da Voyager Capital, logo após o colapso do ecossistema Terra (LUNA). Ato esse que certamente ajudou na imagem da FTX como uma empresa solvente e preocupada com o mercado blockchain.
Mas nem tudo ia tão bem como parecia
Algo não se mostrava correto na Alameda Research. Só para exemplificar, Sam Trabucco decidiu abandonar a posição de CEO da plataforma no final de agosto.
Como a decisão foi algo que pareceu bem aleatório, alguns olhos do mercado já se voltaram para ela.
Pouco depois, o presidente da FTX até então, Brett Harrinson, decidiu também que era hora de deixar o cargo.
Mais um grande sinal de alerta. Afinal, por que dois grandes executivos sairiam de empresas que estavam indo tão bem? Isso soou mais estranho ainda.
Após essas saídas, a pressão da SEC caiu sobre a FTX.
Conforme noticiado pelo Bolha Crypto, o regulador de títulos do Texas lançou uma investigação sobre a FTX e SBF.
De acordo com o diretor executivo do Texas State Securities Board, Joe Rotunda, em outubro estavam em investigação as contas que a FTX oferecia e que pagavam aos investidores rendimento em troca do depósito de suas criptomoedas na empresa.
A falência da Alameda Research
Todos esses passos já indicavam que algo estava errado, mas a verdadeira falência da Alameda teria chegado bem antes disso.
Segundo o tweet compartilhado por Lucas Nuzzi, chefe de P&D da CoinMetrics, a empresa de trading entrou em falência já no segundo trimestre de 2022. Nuzzi informou que a Alameda apenas sobreviveu porque a FTX teria oferecido fundos para eles.
O pesquisador da Coinmetrics disse em seu perfil no Twitter que a farsa acabou há 40 dias, quando 173 milhões de FTT, cotados a US$4 bilhões, se tornaram ativos na cadeia de forma repentina.
Nesse mesmo dia, US$8 bilhões em FTT foram movidos on-chain. Esse foi o maior movimento diário do token da FTX em sua existência.
Só que a história não acaba por aí.
Nuzzi encontrou uma transação que interagiu com um contrato da ICO de tokens FTT em 2019. Segundo o pesquisador, o único destinatário do valor de US$4 bilhões foi a Alameda Research.
Na visão de Nuzzi, a falência da Alameda chegou na mesma época que a da Three Arrows Capital. Ou seja, no segundo trimestre deste ano.
Sem dúvidas, a FTX tomou a decisão de proteger a empresa de trading para que as coisas não ficassem piores para o FTT.
Se em maio a Alameda tivesse morrido, o contrato FTT ICO teria sido executado e trago uma grande liquidação para todos os tokens que foram comprados em setembro.
Entendendo isso, vemos que quando a FTX dizia estar socorrendo a Voyager Digital, ela estava mesmo empenhada em salvar a Alameda.
Muita coisa ainda está para acontecer
Bitcoin e as altcoins foram extremamente afetados com a resolução do Big Money entre a Binance e a FTX.
O que já não vinha andando bem por conta das pressões macroeconômicas piorou com o cenário caótico entre as grandes empresas de negociação de criptomoedas.
De fato, o FUD foi intensificado mais nos investidores da FTX que agora expressam preocupação com o valor investido.
Já os investidores de risco temem que seus investimentos sejam completamente eliminados.
Para mais, a decisão da Binance de comprar a FTX ainda é desenvolvida e os apoiadores da exchange não sabem como tudo isso irá impactar seus investimentos.
Sem dúvidas, 8 de novembro de 2022 vai entrar para a história do mercado cripto como um dos mais loucos de sua existência.
Mas o que a gente podia esperar? Criptomoedas estão na fase da adolescência e a rebeldia não pode ficar de fora. Bem-vindo ao game.