Sem dúvida, 2023 foi um ano agitado no mercado de criptomoedas. Tivemos muitos acontecimentos que marcaram a indústria blockchain, tanto negativos, como o roubo de US$2 bilhões por hackers de projetos criptos, quanto positivos, como a vitória da Ripple na ação judicial levantada pela SEC dos Estados Unidos.
Analisando o preço das criptomoedas, podemos dizer que tivemos um 2023 relativamente bom. Afinal, por mais que o bitcoin (BTC) esteja distante de sua alta histórica, o BTC terminou o ano com uma alta superior a 150%.
Falando em preço, vale a pena mencionar a queridinha (ou não) Solana (SOL), que viu sua capitalização de mercado crescer mais de 669% no ano passado.
Embora muitos acontecimentos tenham sido manchetes em 2023, o Bolha Crypto decidiu separar quatro assuntos que achamos que merecem destaque e, claro, conversou com nomes importantes da indústria blockchain do Brasil para comentar sobre eles.
Esse é apenas o primeiro artigo dessa saga, esperamos que gostem.
Caso Sam Bankman-Fried
Sam Bankman-Fried (SBF) foi um dos nomes mais importantes da indústria blockchain até o último trimestre de 2022. Boa parte do mercado de criptomoedas confiava nele e em seu império, merecendo destaque a Alameda Research e a exchange cripto FTX.
No entanto, com o tempo, vimos que essa confiança foi exagerada e o castelo de areia de SBF ruiu. O “jovem prodígio” foi acusado de usar o dinheiro dos clientes da FTX para fins pessoais, apoios eleitorais e até para mandar para a Alameda.
Além disso, foi divulgado que boa parte do patrimônio de suas empresas estava no token FTT, que foi criado pela própria equipe de SBF. Se você já estava presente no mercado em 2022, vai lembrar da sangria que aconteceu quando todo esse assunto veio à tona e houve uma “corrida bancária” na FTX, o que fez com que nem todos os investidores conseguissem sacar seu dinheiro.
O restante da história foi a queda geral no preço do bitcoin e das altcoins, investidores da Solana que o digam, e em 2023, aconteceu o julgamento de SBF. Foi algo bem tenso e muitas coisas chamaram atenção na fala do até então investigado.
Mas uma das que mais me chocou foi o fato dele ter dito que tinha pouco conhecimento do mercado de criptomoedas ao lançar a FTX e a Alameda Research.
“Eu não tinha absolutamente nenhuma ideia de como elas funcionavam. Eu só sabia que eram coisas que poderiam ser negociadas”.
Minimamente curiosa uma fala como essa e por isso decidi conversar com Gabriel Broetto, gerente comercial da Brasil Bitcoin.
BC: Em sua opinião, é comum que empreendedores ingressem em setores desconhecidos, ou isso é uma prática arriscada, especialmente no caso de criptomoedas?
GB: Não, não é comum. O mais comum é que os empreendedores montem negócios em ramos que eles entendem, que eles dominam, para conseguir aproveitar oportunidades e também para ter motivação para conseguir fazer as atividades do seu serviço. Porque se você trabalhar com algo que não gosta, você está fazendo aquilo meio de obrigação, só pra ganhar dinheiro mesmo, só pra se sustentar”.
Conforme observado por Broetto, o fato de SBF não entender de cripto e montar uma exchange no setor, que acabou se tornando a segunda maior do planeta, demonstra um risco.
GB: Agora, nós investidores quando formos abrir uma conta em uma corretora, temos que verificar também esse ponto. É outro ponto de análise, não somente taxas, limites, quantidade de moedas, mas também quem é a equipe que montou aquela corretora, qual é o objetivo, qual é o propósito daquela corretora”.
Bitcoin abaixo de US$20.000
Caroline Ellison, ex-namorada de Sam Bankman-Fried e ex-CEO da Alameda Research, também foi um ponto-chave do julgamento. Isso porque ela sabia de muitos acontecimentos que envolviam ambas empresas de SBF. Nesse sentido, uma de suas falas que mais chamou a atenção foi de que o empresário coordenava esforços para manter o bitcoin abaixo de US$20.000 para atrair recursos.
BC: Essas práticas são comuns no mercado de criptomoedas? Como elas podem afetar a confiança dos investidores?
GB: Não, isso não é comum ou pelo menos não deveria ser, porque basicamente você tem uma corretora de criptomoedas e você está operando contra o mercado em que atua. Também há suspeitas de que o bitcoin não alcançou os US$100.000 por conta de ações coordenadas por Sam para impedir que isso acontecesse.
Broetto apontou que essa manipulação de SBF demonstra que ele não só não entendia de cripto, como também estava jogando contra a própria indústria.
GB: Então, de certa forma, a FTX ter saído do mercado foi bom. A atitude de Sam foi um ato extremamente egoísta e criminoso também.
Sam Bankman-Fried presidente?
Também não podemos deixar de mencionar o fato de que SBF aspirava à Presidência dos Estados Unidos, algo que confesso que fiquei chocada quando li.
BC: Você acha que tudo isso fazia parte de um plano do empresário para dominar a indústria ou enxerga essa postura de outra forma?
GB: Eu acredito que sim. O Sam foi um dos principais doadores para a campanha política dos democratas e tinha amigos importantes lá dentro, pessoas influentes que determinam qual será o curso da política nos Estados Unidos. Inclusive, Sam estava prestes a conseguir licenças importantes para a FTX, o que ia demonstrar que a exchange era uma plataforma segura, o que na verdade não era.
Com isso, Broetto também acredita que faltou uma vigilância por parte dos legisladores que falam que estão ali para proteger os consumidores, mas parece que foi tudo um grande conluio.
GB: O próprio crescimento da FTX foi algo muito gigantesco em um curto espaço de tempo, então isso me levanta suspeitas de que Sam recebeu muito dinheiro vindo da política para conseguir alavancar a corretora dele e fazer ela crescer muito.
Outro ponto destacado por Broetto foi o fato de SBF não entender de mercado, mas mesmo assim conseguir abrir uma exchange com um crescimento tão elevado, fazer lançamento de produtos tão específicos, ter uma plataforma que funcionava muito bem e a experiência do usuário ser boa.
GB: Eu sou um ex-cliente da FTX e eu posso dizer que a parte tecnológica da empresa foi um dos principais pontos que me levou a operar nela. Então, uma pessoa que não entende de mercado não teria dinheiro suficiente e nem conhecimento para poder lançar tantas coisas de qualidade igual a FTX tinha enquanto ela estava operando. Então, para mim, sim, acredito que foi um conluio.
Por fim, Broetto comenta que o fato de SBF ter jogado contra o mercado cripto, tentando deixar o preço abaixo dos US$20.000 ou impedindo que o BTC alcançasse US$100.000 no ciclo passado, pode ter sido um acordo junto com essa ala política para diminuir e frear o crescimento do mercado cripto.
GB: Então, em termos de longevidade do mercado, foi muito bom essa limpeza da FTX porque era um player desonesto. E o que eu desejo para players similares que estão contra o mercado cripto, que cometem fraudes, que cometem crimes, é que eles também saiam do mercado. Que o mercado limpe todas essas corretoras, todas essas plataformas que estão prejudicando o crescimento do mercado cripto e atraindo desconfiança para esse setor tão promissor.
Finalizamos dizendo que SBF foi condenado por todos os crimes após um julgamento por fraude.
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